abraça-me


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"valerie and gotscho embraced", nan goldin

Limpa-me as lágrimas. Eu calarei as vozes que não nos deixam dormir.




"valerie in the light", nan goldin

Sou eu na luz, adormecida dos sentidos, dormente de ti, estilhaçada. Na sombra todos nos tornamos demónios, cada gota de sangue sabe a fel e cada olhar é pleno de intenção. Somos nós e não somos nada. Onde agora há luz houve outrora melodias do anoitecer. Mas deixámos de saber cantar. Dançamos no silêncio, apenas.



Fumou tranquilamente o último cigarro enquanto ele se vestia. Estava atrasado. Como sempre. Como todos os finais de tarde em que se arrastavam emocionalmente pelos lençóis. De pé, ele vestiu as calças, apertou o cinto. passou a mão pela t-shirt, para tirar os vincos. Ela era um vinco mais difícil de sacudir. Viciara-se no corpo dela. Ali, na cama, a olhá-lo, de cigarro na mão, despida depois do sexo, cansada depois das palavras e prazeres irreflectidos. Na respiração incontrolada do orgasmo as unhas cravadas no ombro deixaram marca. E ela, ficava ali, enquanto ele, virado para a parede, calçava os sapatos. Não lhe apetecia vestir-se. Ir-se embora. De facto, não precisava de se ir embora. Ele sim. Tinha sempre de ir embora. E já estava atrasado. Tinha outro corpo à espera. Outra pele para lamber. Outros seios para admirar. Outras pernas para o apertarem em brincadeiras e jogos lascivos. Apagou a beata e deixou-se ficar. Não tinha mais cigarros. Ele olhou-a, deu-lhe um beijo na boca e saiu, depois telefono-te, não sei quando nos podemos voltar a ver. A porta fechou-se e ela não disse nada. Ficou sentada a desfiar no pensamento as razões. Não as dele. Apenas as dela.




foto de Nan Goldin


terça-feira


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Sono, tanto sono... Nota mental: não fazer noitadas durante a semana, quando há que levantar cedo no dia seguinte. Estou, Laura, podes ir descendo, estou quase a chegar. Cds no banco para a viagem, Clap Your Hands Say Yeah, Arctic Monkeys, The Editors, Dead Combo. Sono, desculpa se adormecer Ricardo, isto hoje está complicado. Pára, arranca, pára, arranca, epá, isto hoje vai ser impossível sair de Lisboa, cambada de tótós. Vá lá, despacha-te!! Combinei às 11 menos um quarto, dá tempo. O conceito? É mais ou menos isto, duas páginas, três pessoas, sucesso/insucesso, a metamorfose, o patinho feio que se transforma em cisne... Team work, team work! Desligo. Acordo. Clap your hands! When I feel so lonely / Clap your hands! When I won't do nothing / Clap your hands! When I have no money / Clap your hands! When it don't seem likely /Clap your hands! Sai para S. João da Ribeira, a casa não tem número. Pergunta-se. Duas mulheres. Onde? Casal das Rosas. Vira ali à frente na Cila. Errr... Ah, pois, não são de cá, no segundo cruzamento à direita, mas ainda é um bocado. Isto foi muito Gato Fedorento, não achas? Não se vê ninguém. Ó cão, onde é que mora a senhora Adília? Béu béu... risos. Verde, tanto verde. Parece que chegou mesmo a Primavera. Porta abre, o campo manifesta-se da pior maneira. Epá, hoje trouxeste o Channel nº 5? Espera, isto entrou-me pelas narinas e queimou-me algumas centenas de neurónios! É o chamado faro jornalístico! Está alguém em casa? Histórias, gravador, vidas descompostas. Malmequeres apanhados no meio da erva. Rumo a outro sítio. Raízes, não as minhas. Almoço no Tabuleiro, bom e barato. Mais uma vida a falar para o gravador. Bonita, força de vontade, orgulho no filho não esperado aos 18. Admirei-te. Sê feliz. Auto-estrada. Trânsito, muito trânsito. Benfas!! Cachecóis encarnados. Confissões, desmotivações, palmadas nas costas. I bet that you look good on the dancefloor / I don't know if you’re looking for romance or.../ I don't know what you’re looking for / I bet that you look good on the dancefloor / Dancing to electro-pop like a robot from 1984. Filosofia nas coisas mais pequenas. Estou? Estou quase a chegar, apanha-me na “Luciano Cordeiro”. Entrevista cancelada, afinal. Marquês. Kolmi. Autocarro. Maldito trânsito. Café no Nicola. Saudades. Risos. Amizades cibernéticas. Uma casa nova, cinco assoalhadas, mudamos lá para Agosto. Moleskines. Feliz, muito feliz. Conversa em dia. Telemóvel, amiga, jantar rápido: sopa e conversa em dia. Desventuras, encontros. Mas quem é que come scones com fiambre? É com doce ou manteiga, certo? Mas isso ainda não é o pior... Quê, há mais? Risos, mesa da frente com gaja de tanga à mostra. Final de noite, casa, dormir. O Benfica empatou. Qual foi o melhor momento do teu dia? Sábado é José Cid no Maxime. Beijo de boa noite. Até amanhã. Três da manhã. Levantar do sofá e ir para a cama.


auto-crítica


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É tão mais fácil ir com a carneirada do que ser o pastor.


arraiolos, março 06



Eu já devia saber que a pesquisa não me ia levar a lado nenhum...


"A sua pesquisa - "manual de instruções para viver" - não encontrou nenhum documento.

Dica: Experimente pesquisar sem aspas para obter mais resultados.

Sugestões:
Verifique que nenhuma palavra contém erros ortográficos.
Tente utilizar outras palavras-chave.
Tente palavras-chave mais gerais."



1. A minha vida não contém erros ortográficos.
2. A minha vida tem algumas palavras-chave e não as troco por outras.
3. A minha vida tem de ser mais geral, mas às vezes é bom que seja específica.

Banda sonora enquanto escrevo: "Gold Lion", Yeah Yeah Yeahs



vias-me assim
nua
crua
de pele cortante


2001

sentias-me assim
distante
mas tua
tu em mim, sempre
e para sempre
mulher
o corpo repousa
sabendo
querendo
respirando
o teu toque

--------

hoje, para nunca mais
aqui
sem sentidos
a pele chora
mas não teme
treme



2006

linda
narcisa
delirante
num espelho de faces ocultas
salta e não
pensa
sente
mas não quer

e não toca
o tempo derrete-se em arabescos da memória




liberdade


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Acordei cedo. Fiz o que tinha a fazer antes de ir para o trabalho e desci a Avenida da Liberdade a pé. há quem diga que sou louca, por andar a pé, por descer a avenida, por andar sozinha por aí, por parar para olhar as flores, por contar as pedras da calçada, por registar com os olhos as placas antigas das lojas, por parar e admirar uma porta antiga, por me demorar nas montras dos objectos kitsch, por ir a pé por uma cidade velha, por gostar dos cheiros e sons de uma cidade antiga que se renova de cada vez que olho para ela. Serei louca, mas é o rasgão necessário na "normalidade" para sentir que não faço parte do rebanho.




rodada


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A música entrou-lhe no corpo antes de ele o fazer. Suavemente, atirou-a contra a parede e sugou as lágrimas que ainda teimavam em cair pelo rosto, peito e ancas abaixo... Deram uma volta e outra, cravaram as unhas um no outro, num tango intenso e ritmado, com electricidade nos acordes. Havia urgência em terminar, claro que havia. A música não dura sempre, sabes? A dança quase que doía, tanto ou mais que um coração despedaçado. Mas era necessário que dançassem, que batessem com os pés no chão e entrassem no delírio frenético daquela melodia. Ela olhou-o e ele nada pôde fazer. As pernas paralisaram perante os movimentos indecentes de quem não tem nada a perder. Num gesto quente e pleno de ira, soltou-se a vontade das amarras e caíram na cama, enquanto o disco passava sons de mistério.

Escrito ao som de "Rodada", Dead Combo





É por causa destas e d'outras que me chamo Laurita dos mal-me-queres...


adubai...


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para colher
para que do papel nasça a semente
para que a criação seja humana
para que os milagres aconteçam
adubai
a imaginação
e plantai
as raízes da inspiração
em paredes de pedra
e cal
adubai
sempre
e arrecadai em silos
o fruto
da vossa escrita
e que benditas sejam
as palavras
saídas do vosso suor
e do vosso ventre
como feto prematuro
que quer gritar aos céus
toda a dor de existir
adubai



Alguém me manda um endereço que, intrigada, copio para o browser. E é assim que me cai uma lágrima ao ouvir, entre outras melodias de infância, a canção do Misha...



Mais músicas e anúncios no Espaço Pirata do Mistério Juvenil


simples


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Amanhecer com sol e um sorriso. Viajar no eléctrico velhinho e barulhento. Beber café na padaria da esquina. Ser a primeira a chegar ao trabalho. Terminar um texto pendente. Conversar. Reunir. Discutir. Rir. Sair para almoçar com dois colegas na Adega dos Lombinhos. Caminhar e fazer um "sunning". Parar na gelataria, beber café e pedir gelado de limão. Voltar para o trabalho com o sol a brilhar sobre mim.

Esta podia ser a banda sonora. Simples.



"Between The Lines", Sambassadeur





palavras magnéticas
que colo ao acaso no vazio ordenado
como um puzzle, ora com
ora sem sentido.
são emoções frenéticas
presas no frio deste corpo
preto no branco
é poesia congelada.
a minha própria sinalética
o sentir e o desejar
numa ordem aleatória.
ao ritmo dos dias incertos e presentes
com duplo magnetismo.
a vida é um frigorífico
onde a poesia se cola como um iman.
peça a peça.
letra a letra.
lá dentro repousam ervilhas
alface, gengibre
iogurtes e fruta da época
coexistem no frio.
também à sua maneira
as cores fazem alguma poesia.
porque não há inspiração
de estômago vazio.



obrigada r.




foto de raio de sol

Ao fundo, ouve-se música... Distante. Dispersa. Errante. Adversa.

antes de saíres para o trabalho, arrumas à pressa
o dia anterior para debaixo da cama.
guardas o coração ainda adormecido bem dentro do teu corpo
e esqueces essa canção que já não passa na rádio
mas que vive secretamente dentro de ti.
fechas a porta à chave com duas voltas e sais.
os teus passos na escada fria soam ligeiros e apagam-se,
perde-se o rasto, easy listening,
guardas tudo para ti como um ex-dj...
assim partes, quase a correr.
parada junto à passadeira, protegida num gesto ledo
fixas o olhar na sombra dos carros que passam.
esperas pelo sábado,
pelo feriado e as suas pontes,
pelas férias para ouvires as tuas canções.
sentes-te longe, silenciosa de luz.


"Monotone", "Três Minutos Antes de a Maré Encher" - A Naifa (poema de João Miguel Queirós)





...o meu gato aprendeu a abrir o frigorífico! Cheira-me que este olhar calculista é de quem está a congeminar um plano astucioso para meter a unha nas chouriças que os meus pais mandaram lá da terra.



"Tear You Apart" - She Wants Revenge




"Got a big plan, this mindset maybe its right
At the right place and right time, maybe tonight
And the whisper or handshake sending a sign
Wanna make out and kiss hard, wait nevermind

Late night, in passing, metioned it flip to her
bestfriend, it's no thing, maybe it slipped
but the slip turns to terror and the crush to like
when she walked in he froze up, leaves it to fright

Its cute in a way, till you cannot speak
And you leave to have a cigarette, knees get weak
An escape is just a nod and a casual wave
Obsessed about it, heavy for the next two days

It's only just a crush, it'll go away
It's just like all the others it'll go away
Or maybe this is danger and you just don't know
You pray it all away but it continues to grow

I want to hold you close
Skin pressed against me tight
Lie still, and close your eyes girl
So lovely, it feels so right

I want to hold you close
Soft breasts, beating heart
As I whisper in your ear
I want to fucking tear you apart

Then he walked up and told her, thinking maybe it'd passed

And they talked and looked away a lot, doing the dance
Her hand brushed up against his, she left it there
Told him how she felt and then they locked in a stare

They took a step back, thought about it, what should they do
Cause theres always repercussions when you're dating in school
But their lips met, and reservations started to pass
Whether this was just an evening or a thing that would last

Either way he wanted her and this was bad
He wanted to do things to her it was making him crazy
Now a little crush turned into a like
And now he wants to grab her by the hair and tell her

I want to hold you close
Skin pressed against me tight
Lie still, and close your eyes girl
So lovely, it feels so right

I want to hold you close
Soft breasts, beating heart
As I whisper in your ear
I want to fucking tear you apart"