foto de francesca woodman

queimam.

"The Other Side of Mt. Heart Attack", Liars




criação


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Encontrei-te. Não me disseste nada. Nada. Nem um suspiro. Que faço eu contigo, agora que és minha? Gostava de poder dizer-te todos os poemas, mas não sei cantar as emoções que me queimam. Não as saberias ouvir, de qualquer forma. Tenho-te aqui. Para sempre. Vamos dançar? Não te farei sofrer. Prometo.



Sentes a chuva lá fora? És bela. Demasiado bela. Temos toda a noite. Temos toda a vida, de facto. A eternidade nunca é demasiado longa. Ouves a música que tocam para nós? As melodias que escorrem por mim? O carmim nos teus lábios é doce. Quase choro ao tocar a tua pele. Consegui o tom perfeito.



Que faço eu contigo? Ficaria aqui toda a noite a contemplar-te. Obra-prima. És tu. Escultor. Eu. A materialização do desejo será doentia? Não sei o que te vestir. Vamos dançar. Vamos. Com traje de gala. Tirar as máscaras. Não me olhes dessa forma. Eu dei-te vida. A vida eterna. Amo-te. Demasiado.



fotos de pedro medeiros [in "10% formol"] para "masquerade" de legendary tiger man




"lisa lyon", robert mapplethorpe

Faço um ângulo
Suspensa no toque de uma rocha.
Forte.
Aponto a suavidade
De uma nuvem.
Flutuamos
Enebriados.
Bebe-me.




"white gauze", robert mapplethorpe

ofegante

no meu ouvido


ruas


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foto de raio de sol [cropped]

Respirar. Acordo sem saber onde estou. Acordo. O despertador marca 9h00. É tarde. O corpo nu é lambido pelos lençóis. Lá fora, um carro grita no empedrado. Não reconheço a claridade. Sorrio às libelinhas. Não há música. Apenas o dia. As cortinas ao vento. Apanho os pedaços de uma Alice perdida e, ao espelho, colo-os no meu rosto, um a um. Os olhos estão brilhantes. A boca devolve-me um bom dia. Saio para uma Lisboa que é minha, porque a trago na palma da mão. Hoje faço um percurso diferente. Porque sim.





"Country Girl", Primal Scream





Há espíritos a dançar no prédio em frente, ao anoitecer.

Riem-se. E dançam.

Até de madrugada.





E não é que terylene rima com Hexaclorofene...





Devíamos usar mais vezes a palavra terylene.




autor desconhecido

Porque hoje é dia 23.



"Quantas coisas do coração
Não conseguem compreender
O que mente não faz questão
E nem tem forças pra obedecer
Quantos sonhos já destrui
E deixei escapar das mãos
Se o futuro assim permitir
Não pretendo viver em vão

Meu amor não estamos sós
Tem um mundo a esperar por nós
No infinito do céu azul
Pode ter vida em Marte

Então, vem cá me dá a sua lingua
Então vem, eu quero abraçar você
Teu poder vem do sol
Minha medida
Então vem, vamos viver a vida
Então vem, senão eu vou perder quem sou
Vou querer me mudar para uma life on mars"


"Life on Mars?", Seu Jorge (adaptação do tema de David Bowie)


tic tac


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"fairy tale disaster #150", cindy sherman

Lambe-me as feridas, um dia após o outro. A pele salgada desperta para o horizonte ambíguo e solitário. Respira compassadamente, a garganta vomita sangue e pus. O suor tem a poesia de um corpo podre e gasto pelas paredes. Não há sentido no que vês. Deixa-me estar, presa em mim. Na minha alucinação permanente. Amen.


work-dreaming


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Às vezes gostava de comer um amendoim mágico, à laia de Super Pateta, e transformar-me na Super Broa. Depois levantava voo e divertia-me a atirar migalhas a quem me apetecesse...



(até porque, além de muitos, estes adeptos em particular eram bastante largos de ossos)


área de serviço de Antuã, jogo Portugal-Irão

Mais uma vez, o país pára por causa da bola. Adiam-se reuniões. Prolongam-se as horas de almoço. Colegas desesperados tentam pôr uma televisão a funcionar. Discutem-se tácticas. Ao telejornal da SIC ontem à noite só faltou lançar insultos contra quem não está com o espírito do Mundial. Fiquei a saber que os jogadores angolanos são fortes porque comem moamba. A gente cá se vai safando com a sardinha. Haja bandeiras, porque é bonito...



Valença – Redondela – Pontevedra – Caldas del Rey – Pádron - Santiago de Compostela



114 kms sem bolhas nos pés. Caminhos de alcatrão, terra batida, cimento, calçada medieval, lama. Sol, muito calor, trovoada e uma valente carga de água. Um joelho avariado. Sento-me na cama e choro com dores nos pés. Banhos quentes e creme. A vaca da irlandesa liga a luz às 6 da manhã. Queremos dormir. Em automático, um café solo e donuts.



Rectas que nunca mais acabam em zonas industriais. Bosques encantados. Bicharada: esquilos, um furão saltitante, uma cobra de água, lesmas, muitas lesmas, das pretas (não há azuis, pena, chegávamos lá mais depressa), uma libelinha, um coelho ao longe, o besouro Manolo, os cães pouco amigos dos peregrinos.




Onde é que está a puta da seta? Já não posso com vieiras à frente! Nunca um Iced Tea soube tão bem. Já papámos as escoteiras (salvo seja).




Sandes de atum e de sardinha com tomate à beira de um regato. Os espanhóis espirituosos de malmequeres nas mochilas roubam tomates nas hortas e fazem uma salada.



Protector na cara e nos braços, não me livro de um pequeno escaldão. Petiscos pelo caminho, muita cerveja, há “estrelas galícias” a guiar-nos até Santiago.



“No pulpo à galega é que está o ganho”. Rimas estúpidas para animar. Pimentos de Pádron. Daqui a pouco vamos pelo caminho a cantar “lai lai lai, lai lai lai”, aos zig zags.



Pinhas. Um cajado improvisado. Nas calmas, para-se para almoçar. Belos noodles. Sonecas sob os pinheiros. E sob os castanheiros. Os bons peregrinos acordam às quatro da manhã para chegar a tempo da missa na catedral. Às sete levantam-se os peregrinos ociosos. Chega-se a Santiago à chuva.




A catedral é bonita, mas queremos é descansar. À noite bebem-se uns orujos. Na Praza das Praterias num violino escorre uma melodia de Pachelbel. Fecho os olhos e aquilo sabe-me bem. Mesmo muito bem.



Não vim aqui pela fé, mas por este momento de paz. Este caminho foi um teste. E não há carimbo que valha o percurso feito.


bon camiño!


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A Broa Quente Com Manteiga vai estar a levedar durante alguns dias. Aproxima-se uma grande caminhada e, ao que sei, polvo e pimentos...
Até já.



Desculpa lá Alex, mas tinha de te 'roubar' esta imagem. Gosto.


© three girls on dead boat - alex 2006

"...podia ser um verão azul. mas não é. a areia está suja. a água do rio cheira mal. três miúdas apanham sol sobre um barco morto. a mim parecem-me felizes..."



Eu e a Leonor, a minha sobrinha de um mês, temos muito em comum.



Ambas temos, actualmente, muito pouco cabelo... :)


os putos


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Sigo pelo pinhal, respiro o ar que cheira a resina, caruma sob os meus pés. Caruma, caruma, caruma, digo baixinho, seguindo o teu conselho. Tens razão, sinto-me mais leve. Ando à procura dum bocado de corcódea, grande o suficiente para fazer um barco. Quando o encontro, sento-me no alpendre e, com uma navalha, começo a delinear as formas da embarcação.
O casco suave do meu barquito está catita. Escavo, de seguida, o interior. À medida que o faço, vou imaginando os tripulantes a bordo. Terei de arranjar uma vela e um mastro. Um palito com um pedaço de papel. Agora sim, está pronto para navegar.
Os putos aproximam-se. O que está a fazer? É um barquito de corcódea, nunca fizeste nenhum? Não... Mas isso não vai ao fundo? Claro que não, a corcódea é leve, flutua na água. Mas a senhora faz bonecos em madeira? Não, só barquinhos de corcódea. Este já tem dono, é para um menino que já cresceu, mas que tem uma alma de criança no sorriso. Querem que eu vos faça uns barcos para vocês, também?
Com isto, os putos correm pelo pinhal fora, de calções e pernas ligeiras. Há silvas, mas eles não se importam de ter um arranhão ou outro. Sorriem ao imaginar o barco a navegar nas águas de um tanque que é já um oceano, e as mãos a provocar ondulações na água são já ondas enormes, gigantes, que põem em risco a vida dos tripulantes. Ou serei eu que imagino tudo isto?
Dez minutos depois, os putos trazem-me duas mãos-cheias de pedaços de corcódea.
- Faça-me um barco, senhora.



Come on dad gimme the car tonight
Come on dad gimme the car tonight
I got this girl I wanna....
Come on dad gimme the car
Come on dad gimme the car tonight
I tell'ya what I'm gonna do
I'm gonna pick her up
I'm gonna get her drunk
I'm gonna make her cry
I'm gonna get her high
I'm gonna make her laugh
I'm gonna make her...shh
woman, woman, woman
she gotta knows she's it
cause I'm gonna touch her
all over her body
gonna touch her
all over her body
gonna touch her
all over her body
gonna touch her
all over her body
and she can touch me
all over my body
she can touch me
all over my body
she can touch me
all over my body
she can touch me
all over my body...


"Gimme The Car" - Viva Wisconsin - Violent Femmes



Cenário: Benfica, paragem do 46. Regresso ao quartel-general depois de uma visita a uma escola... vejo no painel que faltam 10 minutos para o autocarro 46 chegar. Dirijo-me à paragem, em busca de alternativas para chegar ao destino mais rapidamente. Um senhor de 70 anos mete conversa.



- Para onde é que quer ir, menina?
- Vou para a Baixa...
- Ah, então tem de apanhar o 46...
- Eu sei, obrigada, estava só a ver se havia mais algum autocarro que fosse para aqueles lados...
- Não, tem de apanhar o 46!!
- Err... sim, está bem, obrigada... (Nesta altura suspeito que se não apanhar o 46 me vou arrepender e, quando passa o 58 para o Cais do Sodré deixo, tranquilamente, o autocarro passar). - O senhor também vai apanhar o 46?
- Ah, não, eu moro aqui.

(Pergunto-me o que está, então, a fazer sentado na pagarem de autocarro. Interessante...)

- Eu moro aqui há muitos anos... A menina estuda?
- Não, já estudei. Já trabalho há uns anitos.
- Ah, e tirou um curso superior?
- Foi, de Comunicação... Mas isto está muito difícil.
- Pois está. As únicas áreas em que está fácil são a Medicina e a Informática. Olhe, o meu filho é médico...

(Hum... onde é que esta conversa me vai levar? Mas o autocarro não chega?)

- É casado com uma professora. Tinha ficado muito triste se ele tivesse casado com uma rapariga que não fosse licenciada...

(Nisto, outro senhor mete-se na conversa...)

- Pois olhe que eu conheço um médico cirurgião que casou com uma peixeira! E estão casados há uns 10 anos...

(Chega o 46, finalmente...)

- Olhe, já aí vem o autocarro. Boa tarde, então. Até à próxima...
- Muitas felicidades, menina. Gosto em conhecê-la. E olhe... veja lá se arranja namoro com jeito...
- Errr...
- Veja lá... Não arranje nenhum pé descalço!





Gosto de comboios. Gosto de comprar bilhetes e guardá-los em cadernos. Gosto de observar as pessoas que viajam nos comboios. Gosto de ter planos de viagens. Em breve a mochila e a tenda vão sair do armário. Gosto.