Valença – Redondela – Pontevedra – Caldas del Rey – Pádron - Santiago de Compostela
114 kms sem bolhas nos pés. Caminhos de alcatrão, terra batida, cimento, calçada medieval, lama. Sol, muito calor, trovoada e uma valente carga de água. Um joelho avariado. Sento-me na cama e choro com dores nos pés. Banhos quentes e creme. A vaca da irlandesa liga a luz às 6 da manhã. Queremos dormir. Em automático, um café solo e donuts.
Rectas que nunca mais acabam em zonas industriais. Bosques encantados. Bicharada: esquilos, um furão saltitante, uma cobra de água, lesmas, muitas lesmas, das pretas (não há azuis, pena, chegávamos lá mais depressa), uma libelinha, um coelho ao longe, o besouro Manolo, os cães pouco amigos dos peregrinos.
Onde é que está a puta da seta? Já não posso com vieiras à frente! Nunca um Iced Tea soube tão bem. Já papámos as escoteiras (salvo seja).
Sandes de atum e de sardinha com tomate à beira de um regato. Os espanhóis espirituosos de malmequeres nas mochilas roubam tomates nas hortas e fazem uma salada.
Protector na cara e nos braços, não me livro de um pequeno escaldão. Petiscos pelo caminho, muita cerveja, há “estrelas galícias” a guiar-nos até Santiago.
“No pulpo à galega é que está o ganho”. Rimas estúpidas para animar. Pimentos de Pádron. Daqui a pouco vamos pelo caminho a cantar “lai lai lai, lai lai lai”, aos zig zags.
Pinhas. Um cajado improvisado. Nas calmas, para-se para almoçar. Belos noodles. Sonecas sob os pinheiros. E sob os castanheiros. Os bons peregrinos acordam às quatro da manhã para chegar a tempo da missa na catedral. Às sete levantam-se os peregrinos ociosos. Chega-se a Santiago à chuva.
A catedral é bonita, mas queremos é descansar. À noite bebem-se uns orujos. Na Praza das Praterias num violino escorre uma melodia de Pachelbel. Fecho os olhos e aquilo sabe-me bem. Mesmo muito bem.
Não vim aqui pela fé, mas por este momento de paz. Este caminho foi um teste. E não há carimbo que valha o percurso feito.
;P
Em grande. Caminhadas nunca fiz, mas viagens são cá comigo. Decerto acabaria a jornada com os pés em pior estado que os teus...
"um café solo e donuts"
Donuts? Isto envolvia donuts? Pois... esse caminho nunca será para mim, lol
Este post é espectacular! Toda uma história.
Aquela fotografia da tatto / gato na parede é de antologia, confessa lá.
olha q giro!Amanha sou eu q vou pa lá. Mas não, tb não vou rezar. E vou fazer mais barulho q tu nos teus ténnis e sandálias. Já tinha saudades de vir aqui.
hj deixo-te um beijinho. Não é assim muito habitual mas apetece-me
Banda sonora apetecível após uma longa caminhada, Pachelbel soa sempre bem quando fechamos os olhos.*
:) caminhadas tb não são comigo... nem seker campismo... mas esta começa a tentar-me... quem sabe um dia ***
Caminhar e não pensar em nada. Contemplar. Fazer _tudo_ isso durante uma semana.
Aquele bosque da segunda fotografia era algo de extraordinário. **