O título não é meu, confesso. É de uma qualquer escritora, que escreveu um qualquer livro, que vi num qualquer programa de televisão. Tenho pena que não seja meu. Mas adaptei-o ao meu corpo e aos meus passos. Peguei na ideia original e debrucei-me sobre ela com o mesmo carinho que Alice confere ao corpo do amante que salvou das pedras da calçada. Chove e as gotas rebolam pelo telhado das águas-furtadas de Alice. Rebolam as lágrimas pela pele alva e a chuva embala os desejos. Está escuro, o dia começa, as nuvens escondem o raiar de uma esperança. Ele abraça-a com força. Gosta do calor do peito de Alice, sente-lhe o cheiro e repousa, enebriado. Ela ouve a chuva. Sente as lágrimas do céu. Abraça o tronco quente e enrosca-se em redor de uma certeza. Os dois fazem poesia numa cama onde as gotas de água calam as palavras. São mágoas furtadas a despontar no dia chuvoso. Vozes dementes suspensas pelas gotas de chuva que calam os corpos. São mágoas cruzadas em dias cinzentos e frios.
Gosto mesmo das palavras que deixas aqui. Fazem falar os silêncios que se deviam calar nos corpos, pois são mais poderosas que as gotas da chuva. Talvez porque há cheiros que permanecem além da pele.
Ai estes dias de Inverno...
Mágoas bem furtadas.
(M)águas bem furtadas.