Conversam dois corpos, que apenas existem reflectidos na frieza de uma superfície espelhada. Falam, como se fosse urgente dizer todas as ansiedades, todos os sonhos um ao outro. Olham, desconfiados, para os rostos emoldurados, sorrisos de dias antigos, e temem pela sua própria vida. Por momentos, dão as mãos e penetram na fragilidade de uma madeixa que sai do sítio, de uma perna que roça a outra, inconsciente. Nunca tocam o chão. São corpos ausentes. Como as pessoas mortas que habitam as paredes. Em eterna vertigem, olham os vivos e riem-se dos tristes dias de inverno, lá fora.
A miúda para além de escrever bem também percebe de imagem.
Estou estupefacto !
do Lat. stupefactu
adj., entorpecido;
dormente;
fig., assombrado;
atónito;
surpreendido.
Neste momento perco-me por entre fotografias de gente viva que tento desesperadamente matar dentro de mim. Não tenho neste momento disponibilidade interna para manter vivo o "e se". Também me quero rir de mim própria, mas ainda não consigo...
Como é que uma imagem pode ter um efeito tão absoluto?