Crepitam as castanhas na caruma acesa. Arde. Queima. Já estão assadas? Puxam-me a saia. Uma mão pequenina. Olá. Chamam-me “Castanhita”, mas o meu nome é Catarina. Tu, Catarina, a dos olhos grandes e negros. Gosto de castanhas. Senhora, já está? Dê-me uma, por favor...
Viram-se as castanhas, para queimar do outro lado. Uma a uma, enegrecem-se os dedos. Cobre-se de caruma e o fósforo cai, desamparado, entre as agulhas. A chama dança à minha frente. Não vejo mais nada, apenas as cores vibrantes e, como uma traça, encanto-me neste feitiço. Cheira a frio e a casca estaladiça. Parte-se o invólucro entre os dedos sujos e a polpa fumegante entra na boca, a escaldar a língua.
Olá “Castanhita”. Toma lá esta, que tem duas, para sermos comadres. E, com cuidado, descasco uma castanha e coloco na mão pequenina estendida na direcção do meu sorriso. Quente. Quente. Queima, senhora. Os olhos negros de carvão da “Castanhita” pegam-me no coração e aquecem-no também. Tenho agora um coração de castanha, a escaldar. Deixo a casca estalar por entre os teus dedos. É que eu sou sorriso e sou mão. Sou castanha e sou coração. Sou frio e polpa escaldante. Sou língua queimada e dedos pequeninos. Sou menina imensa e sou mulher de alma de Catarina. Que não existe, mas que está por todo o lado, perdida no fumo e nas imagens tremidas entre as chamas.
Um coração de castanha, podemos comer hoje essa castanha? Talvez seja melhor não... acho q é capaz de te fazer mal, não sei, digo eu ;-)
Não sei se gosto mais do sabor se do cheiro das castanhas assadas...
É Outono e o resto é conversa o frio anda por aí e já se vêm os casacos :)*
Talvez sejas todos os sentidos...
BJ SK