15 – praça da figueira – algés


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Vá, entre lá senhor, não esteja aí a empatar a passagem. Aqui não é paragem, é mais à frente, não sabe? Cambada de estúpidos, sempre a meter os carros onde não devem. Triimmm triiimm triiimmm, tira daí o carro, ó pedaço de asno, não vês que estás em cima dos carris? Anda um tipo a trabalhar todo o dia para apanhar com estes imbecis. Vá lá, até está uma noite calma. Ao menos isso. Mais uma voltinha, mais uma viagem, aqui vai o eléctrico, senhores passageiros, é favor entrar e sentarem-se se houver lugar. Quem for em pé, aviso já, segure-se, que esta máquina vai sempre a abrir. Vou na brasa, que a Joaquina está à minha espera em casa, com a camisa de noite de flanela e os pais-nossos já rezados mas não sentidos. Diacho dos estrangeiros, nunca têm bilhete pré-comprado. Não tenho troco, pá. Pede aí ao ‘camone’ que vem contigo. Ou à ‘camona’, que as gajas têm sempre trocos perdidos na carteira. Sim, sim, vai para ‘Bélém’. ‘Tanque iu’ para ti também... Triimmm triimmm triimmm. Verde, vermelho, verde, avança, pára, que vontade de voar com este eléctrico por cima das luzes da cidade, passar acima dos passos das pessoas, as formigas que somos, os grãos de poeira apressados que vivem sem viver. Vou na brasa, ninguém me apanha...Ó miúdo, salta daí para fora! Caraças para estes putos, sempre dependurados nas portas! Um dia metem o pé em falso, rebolam para o chão, cai-lhes um carro em cima e ainda arco eu com as culpas. Era o que faltava. Sai daí miúdo!! Os teus pais não te deram educação? Ah, maganos, que fazem os cabelos brancos a um homem. Lá vai o tempo em que tinha uma farta cabeleira, negra como o carvão. Agora, há mais pêlos no bigode que na cachola... É a vida! A andar!! Ai o camandro... Este está cheio, não cabe mais ninguém. Vem o 18 aí atrás. Amanhem-se. Se querem ir como sardinha em lata, o problema é vosso. Eu cá vou, sentadito, aos comandos da minha máquina. Clanc. Tchunc. Clanc. Triimmm triiimmm triimmm… Aqui sou eu quem manda. Eu é que sou a autoridade. O bilhete é um euro e vinte. É caro? Pois é, e eu com isso? Se não quer vir, vá a pé. Tem boas pernas para andar, ó calmeirão, veja lá se custa muito ir daqui até à próxima paragem a pé. Só lhe fazia era bem. Vá de táxi, que é mais barato, se calhar... Pacóvio! Vá, deixe mas é espaço para entrarem gajas boas de perna ao léu, que é isso que a malta quer. Lá porque vou aos comandos da máquina, não quer dizer que não goste de ver o material que por aqui passa. Homessa! Para que é que um gajo quer um retrovisor deste tamanho? É para ver os carros, tá bem tá... é mas é para ver os ‘aviões’! Última paragem. Toca a sair este já não vai a mais lado nenhum. E eu cá vou, para casa, para dar um beijo repenicado à minha Joaquina. Pode ser que hoje seja dia de festa... Caramba!, que um homem também gosta de carinho de quando em vez...


3 reacções a “15 – praça da figueira – algés”

  1. Anonymous Anónimo 

    Oh L. isso é que foi viver a personagem. Não te vi a ti, aquela que eu já conheço do que escreves e de algumas poucas fotografias meio encobertas que eu já vi, mas a um "gaijo" da maquineta, ou dito de outra forma, um "machine man". Os homens e as máquinas, as máquinas e os homens, os homens e o poder, o poder e os homens. Já imaginaste o triângulo? E as mulheres ainda caem nesse triângulo, tal triângulo das Bermudas e desaparecem perdidas dentro dele para nunca mais se encontrarem. É triste? É a vida. Mais uma voltinha, mais uma viagem, não se pode parar...

    A primeira vez que andar no 15 quero que seja contigo...
    Isto é uma declaração de amizade, em código.
    Beijo grande.

  2. Anonymous Anónimo 

    boas lembranças, dos dias em q viajava pendurado na porta ...
    e da vez q desatei a rodar o manipanço lá atrás e o tipo quando vai a arrancar não arranca ! levei uma destas descascas !

    bjs

  3. Anonymous Anónimo 

    Ah! pois é!!! cum camandro!!!
    tás a ver como tu sabes? um gajo também gosta de uns carinhos de vez em quando...
    Fartei-me de rir, apanhaste bem a personagem. Parecia a segunda personalidade do sr. ministro no gato fedorento. Só faltava o papo seco e o chouriço. Deve ter comido mais tarde em casa com a sua Joaquina, depois da Labuta.

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