Viajo até ao fim da linha
Onde as palavras são rasgadas
Atiradas à parede. Onde a vontade definha.
Vou até ao fim, com as mãos cheias de nadas.
A meio fica o poema, ficam os passos
Que o sentido é mais profundo, mais doce
Ao sonhar com os teus abraços.
Pela margem do rio vou, a desejar que o rio fosse
O sublime solvente da redenção.
Pois que no fim da linha, na verdade
Apenas lágrimas e sombras de então,
Das noites em que devorei a saudade.
Não vou até ao fim da linha. Não nestas águas.
Será assim que te digo
Que na outra margem das mágoas
Resta o olhar da esperança, do desejo de rimar contigo.
palavras apaixonadas
sim, são palavras apaixonadas, como todas as palavras que aqui escrevo. mas somente inspiradas, pois a paixão não mora neste corpo há muito tempo, infelizmente. a vida sem paixão é podre.
a propósito de paixão e poemas:
Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cór
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato
Eu teimo em colecionar
Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
Tom Jobim
obrigada, lisboeta. é lindo :)
Se eu soubesse escrever poemas não ia até ao fim da linha. Não me rasgava neste pouco que parece quase nada. Não me maltratava numa vida indecente e sem ambições sublimes, sequer banais. Não me sentia a delirar em cada palavra que escrevo, como quem esconde um segredo impossível de revelar. Se eu soubesse escrever poemas não ia até ao fim da linha. Não me deixava enganar por esta inundação de palavras. Escondia as máscaras e as invenções. Não me envolvia em artifícios nem ouvia vozes imaginárias. Seria só eu, despido de tudo o mais, despido até de mim, se tanto fosse possível. Se eu soubesse escrever poemas não estaria para aqui a arrastar palavras até ao fim da linha como quem procura o grito do mar no silêncio do rio.
Música para as palavras lisboetas do Tom Jobim.
sugiro também a versão cantada por Elis Regina no álbum «Elis & Tom».
já te disse...gosto de te ver escrever assim...
jctp: obrigada. palavras belas, como sempre.
rspiff: mas nem sempre é fácil, sabes disso.
A paixão que deixas em cada palavra vem de ti, transborda de ti para o papel, para o teclado, não digas que não a tens em ti.