caderno


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Queres que eu me lembres de ti?(?)



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Não penses que não te vejo. Estás para aí a escrever no teu caderninho, pensas que ninguém se apercebe dos teus olhares invasores, mas eu topei-te à distância. Que ideia a tua, sentado num eléctrico a esta hora, a escrever num caderno. Deves pensar que és o único, não? Não fosse cá por coisas, tirava o meu bloco da mala e abanava-o à frente do teu nariz. Vês? Vês isto? São pessoas, são histórias, são suspiros e espíritos errantes, pedras de calçada e ritmos incansáveis de uma cidade cruel, são desejos e ambições quebradas, são letras torturadas e almas amaldiçoadas. Nem te atrevas a escrever sobre mim... Este é o meu território. E hoje estás com azar, isto vai quase vazio. Há pouca amargura no ar. Isso, fecha o caderno. Mas não te atrevas a examinar-me, a procurar uma emoção em mim. Não vou deixar. Não vais conseguir descobrir os mundos em que penso, os sorrisos que procuro ou as gotas de sal que percorro. Aí sentado, nesse banco de madeira igual àquele em que me sento, podias ser eu. Olhos nos olhos, vejo-me reflectida no vidros atrás de ti. Sobre que estás a escrever? Sobre nadas, possivelmente. Aqui abundam os nadas. A tua caneta está suspensa sobre o papel. As linhas estão cheias de rabiscos imperceptíveis. Familiar. As luzes das ruas passam por nós, porque não escreves sobre isso? Espera, mas então estou eu a dar-te ideias? Era o que faltava. Procura tu próprio as luzes. Busca sozinho as ansiedades de uma noite que ainda agora começou. Descortina por ti próprio os passos das mulheres e dos homens, dos bichos que somos, das feras em que nos tornamos, do sangue a que tomamos o gosto e no qual saciamos a fome. Escreve e risca. Volta a escrever e deixa-te encantar pela musicalidade dos rostos disformes de quem passa e não te vê. Não olhes para mim! Eu não tenho nada para te dizer! Nada, ouviste? Vou levantar-me e sair, estou a avisar-te. Não me olhes pelo canto do olho. Fechaste o caderno, mas eu sei que estás a gravar as imagens aí dentro, todos fazemos isso, todos, ouviste? Vou saltar do eléctrico. Viro-te as costas e os teus olhos perseguem-me, sinto-os a queimar-me a pele. Caraças, desiste! De uma vez. Eu não tenho nenhuma história para ti. Adeus. Sigo pela rua escura, de chave na mão. E tu segues, aos solavancos na vida. Eu bem vi, voltaste a abrir o caderno e tomas notas. Perdido no tempo. Cambada de escritores!!


4 reacções a “caderno”

  1. Anonymous Anónimo 

    ah pois é! Parece que encontraste um adversário há altura...

  2. Anonymous Anónimo 

    andamos todos à procura de histórias não é?

  3. Anonymous Anónimo 

    Cambada!!!!
    (cada vez gosto mais da tua escrita, miúda!!!!)

  4. Anonymous Anónimo 

    Se ele tivesse estado no café do post "xadrez" quem sabe ele não tivesses mesmo escrito as tuas palavras finais!

    E eu acho que tu tinhas muitas histórias para lhe dar...acho que foste egoista!:-)

palavras soltas

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