No enleado dos lençóis
Um corpo suado
Fala-me das luas e dos sóis.
O rosto cansado morre
Ao ler cada pedaço de pele
Que morde, louco pela fome.
Um som distante pede quietude.
Mas o rasgar da carne grita
E ecoa nas paredes, perdido.
Sofrido.
Não há música nesta cama.
Há dois corpos suados.
Zangados.
Que entram numa contradança
Cruel e vertiginosa.
Gulosa.
Entram um no outro sem emoção.
Autómatos do sexo
Fodem para fugir do que não conhecem.
Das paranóias
Que os enlouquecem.
Aqui não há salvação.
Há o doce aroma da sedução
Estilhaçado
Pelo sabor dormente
Do orgasmo salgado.
Lá fora, a noite cai, desamparada.
A chuva escorre por ti
Adentro.
Na noite, choves contra mim
Sacias-me.
Dás-me o alimento
Que o peito aberto recebe
E encerra.
Tu e eu
Os vermes
Que resistem na terra.
Há limoeiros nos olhos
De quem sonhas.
Dos meus pesadelos
Pouco sabes.
Da menina que dança
Perdida em rendas e folhos.
Que cheira a dias de Verão
Molhados pela chuva repentina
E a limão.