cadeiras vazias, rostos ausentes


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"Desculpe, importa-se que me sente aqui?"

Com esta pergunta, sentou-se, e eu não consegui dizer nada. Uma estranha entrava no meu espaço, invadia a minha refeição, olhava a comida que levo à boca... Não fui capaz de a impedir. Seria mais fácil levantar-me e procurar uma nova mesa, se houvesse mesas. Porquê? Porque não me deixa em paz? Não consigo olhar para ela, tem uns 20 anos, uma camisola rosa, mas evito ir de encontro aos olhos vazios. Talvez não sejam vazios, mas não quero saber. Baixo a cabeça em direcção ao prato e concentro os meus pensamentos nas cores da comida, no copo com líquido laranja. Mas que grande merda!, não podia ter-se sentado noutro lado?

Sem levantar os olhos, percorro a sala, primeiro o lado esquerdo, depois o direito. Não olho em frente. Nunca. Ela também não, presumo. Ela que não o faça! Nesta mesa quadrada não há espaço. Começo a ficar claustrofóbica... Não há ar suficiente nesta cidade. As pessoas passam por mim e imaginam que somos amigas, irmãs, namoradas, colegas. Qualquer coisa. Que estamos zangadas. Que não falamos. Apetece-me gritar: eu não a conheço. Não a conheço, ouviram? Ela sentou-se aqui, à minha frente, a violar a intimidade da minha refeição! Já viram bem esta promiscuidade? Por favor, levem-na daqui. Levem-na!!!!!

Ninguém percebe a ansiedade por detrás dos movimentos rápidos dos meus olhos. Ela come lentamente. Não quero saber como mastiga, não quero saber se tem a boca suja, não quero saber se come com a boca aberta, não quero olhar de frente para ela. Percebo, apenas, que a comida demora a desaparecer, e encolho as minhas pernas, não vá acontecer tocar nas dela sem querer. Devolve-me o meu espaço, sua cabra nojenta!! Tomara que te engasges com essa mistela que estás a comer e que sufoques, que estrebuches nessa cadeira que devia estar vazia, porque foi assim que a encontrei. Morre, sua reles usurpadora de mesas!

Acabo a minha refeição, pego no tabuleiro e digo: "boa tarde".


6 reacções a “cadeiras vazias, rostos ausentes”

  1. Anonymous Anónimo 

    excelente fotografia. texto curioso, que retrata bem momentos e sentimentos semelhantes por mim vividos quase diariamente, embora de uma forma não tão excessiva.

  2. Anonymous Anónimo 

    nuno: obrigada. tenho apenas uma coisa a dizer... eu tb não sou assim tão excessiva. neste texto há cerca de 80% de ficção... :)

  3. Anonymous Anónimo 

    80%? Eheheheh!

    Eu como quase sempre sozinho, quando não sozinho no escritório, o que ainda é pior. Gosto de comer acompanhado, embora a maioria das vezes seja difícil.

  4. Anonymous Anónimo 

    katraponga: deixa lá, eu tb faço as minhas refeições sozinha a maior parte das vezes. hoje, por exemplo, o jantar vai ser um delicioso esparguete à bolonhesa daqueles que vêm em saquetas e é só juntar água... e isso ão é 80% ficção, é 80% preguiça de cozinhar! lol

  5. Anonymous Anónimo 

    sim, imaginei que o texto tivesse uma boa dose de ficção :)
    depois de ler os restantes comentários, pergunto-me: será que fazemos "todos" as refeições sozinhos? é que eu geralmente também as faço, mas por vezes gosto de caprichar, mesmo sendo só para auto-consumo…

  6. Anonymous Anónimo 

    hnof chomp shlép gaaaaaaaaaaaaaasssssspppppp......

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